Arquivado: Voto de Protesto – Município de Mourão – BTL 2015
Atualizado em 19/08/2021Voto de Protesto acerca da actuação dos Grupos Corais na edição da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) 2015
VOTO DE PROTESTO
Organizado pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo e a convite da mesma, deslocaram-se a Lisboa no passado dia 01 de Março, 12 Grupos de Cante Alentejano, oriundos do Alentejo Central, Baixo Alentejo e Alentejo Litoral, para atuarem na BTL 2015, num encontro de Corais Alentejanos, que se perspetivava vir a ser um hino ao Cante Alentejano, numa tarde memorável, dada a importância do certame (uma das maiores e melhores Feiras de Turismo da Europa), a quantidade de grupos convidados, a qualidade dos mesmos e a quantidade de público para assistir ao Encontro.
Porém, todos os intervenientes presentes, Grupos Corais, Público, Autarcas e demais Entidades, cedo se perceberam, que não iria correr bem, aliás que iria correr mesmo muito mal, e que todas as expetativas iriam cair por terra.
Desde a receção dos Grupos, á sua formação para iniciar o desfile, feito praticamente sem equipamento de som, apenas existia um microfone, não se conseguindo perceber minimamente o que a técnica tentava transmitir aos Grupos. Passando para o desfile dentro dos pavilhões, com um som ambiente altíssimo e completamente desenquadrado, para passar de um pavilhão ao outro, os grupos eram obrigados a “desformar”, para passarem os portões, etc.
Mas o pior ainda estaria para acontecer. Quando se iniciou a atuação em palco, com umas centenas de pessoas sentadas na plateia, para assistir á atuação de todos os grupos presentes, começam a surgir dentro do mesmo pavilhão, outros grupos, representantes de outras regiões, com instrumentos de som estridente (Gaitas de Foles, Bombos, etc.), que impossibilitava os nossos cantadores de se ouvirem uns aos outros, quanto mais de se fazerem ouvir pelo público. Convém não esquecer que o Cante Alentejano é um cante a vozes, sem qualquer instrumento.
Importa aqui ressalvar, que nada nos move contra a cultura das outras regiões do país, nem contra os grupos que estavam a desfilar pelo pavilhão, antes pelo contrário, apreciamos e defendemos todas as formas de cultura e de expressão das várias regiões do nosso país.
O que não podemos admitir é que os organizadores dum evento com esta dimensão, integrados numa feira com a projeção da BTL, não tenham acautelado horários ou espaços diferentes para a atuação dos vários grupos, de forma que a atuação duns não impossibilitasse a dos outros. Numa tentativa de solucionar ou minimizar o problema, a Srª Presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC) e simultaneamente do Município de Montemor-o-Novo e a Srª Presidente do Município de Mourão, tentaram chegar ao diálogo com alguém da Administração da Feira Internacional de Lisboa (FIL), não se encontrando disponível ninguém com responsabilidade, para resolver o problema. Não admitimos nem toleramos, que ignorem os legítimos representantes dos nossos Municípios e da nossa Região, devidamente legitimados pelas nossas populações, para defender os interesses da nossa região.
Foram MALTRATADS e HUMILHADOS, mais de três centenas de Cantadeiras e Cantadores Alentejanos, que graciosamente, a troco de nada, a não ser a sua vontade imensa e a sua persistência em defender a sua cultura, deixaram as suas casas, os seus familiares e os seus afazeres. Estiveram envolvidos doze autocarros de outros tantos Municípios Alentejanos, que perfizeram um total de mais de 5.000 mil Km percorridos, que representam várias dezenas de milhares de euros, gastos em combustíveis, portagens, desgaste de viaturas, vencimentos, horas extraordinárias e despesas de alimentação dos motoristas, despesas estas, todas suportadas pelos municípios.
Por tudo isto, não podemos calar a nossa revolta, foi simplesmente VERGONHOSO e HUMILHANTE, a forma como foi tratada a Cultura duma Região e dum Povo, que representa um terço do território do nosso País, num ano em que o Cante Alentejano Comemora a sua Classificação como Património Imaterial da Humanidade (foi classificado pela Unesco em 27/11/2014). Num ano em que os jornais e as revistas internacionais, sugerem o Alentejo, entre mais de cinquenta destinos, como um território a visitar, dizendo que “O Alentejo está na Moda”.
O Município de Mourão, com dois grupos do concelho (Granja e Luz) convidados para o evento apresenta assim este VOTO DE PROTESTO por entender que foram OFENDIDOS, MALTRATADOS E HUMILHADOS, os Grupos de Cantares Alentejanos presentes no evento e os Autarcas que os representam, em particular, e consequentemente todos os Grupos de Cantares do nosso Alentejo e todos os Alentejanos de uma forma geral.
A estes doze Grupos de Cantares Alentejanos, aos Autarcas que os representam e à Entidade de Turismo do Alentejo e Ribatejo, em particular, e a todos os grupos Corais Alentejanos, a todos os Autarcas Alentejanos e a todos os Alentejanos, em geral, é devido um PEDIDO DE DESCULPAS da parte de quem TÃO MAL NOS TRATOU.
Por fim, uma palavra de LOUVOR, para a humildade e para a atitude superior das mulheres e dos homens destes grupos, que não tendo condições para fazer aquilo que mais gostam, CANTAR, de forma ordeira, abandonaram o palco e os pavilhões da FIL, pedindo desculpa ao público, por não poderem com eles partilhar a sua arte.
Paços do Concelho de Mourão 02 de Março de 2015
O Vice-Presidente do Município de Mourão
(Manuel Francisco Godinho Carrilho)